quarta-feira, 15 de agosto de 2007

“Núcleo de Cinema Juiz de Fora Cidade Aberta”


Há quatro anos e meio funciona em Juiz de Fora, na Sala João Carriço, da FUNALFA, no Parque Halfeld, o “NÚCLEO DE CINEMA JUIZ DE FORA CIDADE ABERTA”, iniciativa do nosso associado WILLlAM SALGADO, crítico de cinema e profundo estudioso desta que é considerada a mais completa das Artes.

O “NÚCLEO” foi formado em 2002, contando, entre seus freqüentadores, com estudantes universitários, artistas, realizadores de curta-metragens, poetas, professores, profissionais liberais e aposentados, e suas sessões são abertas ao público em geral. Após a projeção dos filmes, sempre às quintas-feiras, a partir das 20 horas, são feitos debates enriquecedores abordando as obras ali apresentadas, sob a coordenação do William, privilegiando todos os aspectos que cercam o fenômeno cinematográfico.

Para realçar a importância de que se reveste o “NÚCLEO” para uma cidade carente de uma boa programação artística como Juiz de Fora, basta lembrar que ali foram apresentados, neste período de existência do grupo, cerca de 100 filmes essenciais da cinematografia mundial, dirigidos por mestres como D.W. Griffith, Buster Keaton, Charles Chaplin, Roberto Rosselini, Jean Renoir, Luchino Visconti, Fritz Lang, Jean Vigo, Robert Bresson, Jean-Luc Godard, John Cassavets, Orson Welles, Glauber Rocha, Luiz Buñuel, Dziga Vertov, Alfred Hitchcock, Françoise Truffaut, Abbas Kiarostami, F. W. Murnau, Akira Kurosawa, Douglas Sirk, Píer Paolo Pasolini, Jacques Tati, Kenji Mizoguchi, Max Ophuls, Ernst Lubitsch, Takeshi Kitano, Eic Rohmer, Roman Polanski, René Clair, Federico Fellini, Martin Scorcese, Carl T. Dryer, Howard Hawks, Billy Wilder, Woody Allen e Clint Eastwood, dentre outras dezenas de importantes realizadores. Programação semelhante, só em Cinematecas e cinemas de arte de metrópoles como Paris, Londres ou New York, o que confirma o privilégio de se contar com a atuação desse importante “NÚCLEO” em Juiz de Fora.

Nestes tempos obscuros, em que a sensibilidade e espírito crítico das pessoas vêm sendo lobotomizados pela frivolidade das mídias, sobretudo na Televisão, na Internet e no Cinema, e quando filmes descartáveis inquestionáveis como os “Homem-Aranha” da vida tomam de assalto todas as salas de cinema do mundo ocidental, iniciativas como as do “NÚCLEO DE CINEMA JUIZ DE FORA CIDADE ABERTA” só podem ser dignas de aplauso, ao caminhar altivamente na contramão dessa enxurrada de mediocridade, e servindo como instrumento de resistência cultural e repúdio ao lixo que nos é impingido pelos cartéis cinematográficos norte-americanos.

A propósito, evidenciamos que a chamada modernidade, ao tempo em que nos acena com sedutores artifícios tecnológicos, também vem impedindo o acesso às novas gerações a obras de arte esteticamente válidas, capazes de resgatar sua dignidade e valores soterrados pelo liberalismo privilegiar, também no campo do Cinema, o individualismo, a violência e a falta de ética. Assim, ao incentivar o consumismo de obras vazias, amplia-se a vertente para construção de uma sociedade ignorante e infantilizada, deixando à margem também levas de potenciais novos amantes do cinema, já que desprovidas de instrumental crítico que ampliasse sua exigência de obras que pudessem enriquecer sua visão da Arte, do mundo e do próprio homem.

Sem falar que a indústria do cinema norte-americano atual, com raras exceções, é inteiramente voltada para o “merchandising” e o lucro fácil, e vem aniquilando, nas últimas décadas, com seu poderio econômico avassalador, cinematografias internacionais de indiscutível prestígio e qualidade, como as da França, Itália, Inglaterra, Alemanha, Suécia e Japão, hoje praticamente agonizantes.

Cumpre lembrar que a denominação “NÚCLEO DE CINEMAJUIZ DE FORA CIDADE ABERTA”, é uma homenagem explícita ao cineasta Roberto Rosselini (1906-1977), figura basilar e pioneira do Neo-Realismo italiano, cujo filme “ROMA, CIDADE ABERTA”, de 1945, foi um divisar de águas para o moderno cinema mundial, embora feito com recursos financeiros limitados e contando com cenários naturais e atores não-profissionais, mas que acabaria inspirando movimentos fundamentais do cinema contemporâneo como a Nouvelle-Vague francesa e o Cinema Novo brasileiro.

Vale também destacar que hoje, países de economia periférica como o Irã, vêm demonstrando, através de obras de diretores como Abbas Kiarostami e Majid Majidi, surpreendente capacidade de criação artística, com filmes premiadíssimos nos mais importantes Festivais de Cinema do mundo, justamente por blindar o poderio do cartel hollywoodiano, interditado em seu território por razões ideológicas explícitas.

Se você ainda resiste aos chamados filmes “blockbuster” e prefere homenagear sua inteligência com obras de alto nível artístico, reiteramos o convite para freqüentar as sessões do “NÚCLEO DE CINEMA JUIZ DE FORA CIDADE ABERTA”, na Sala João Carriço, da FUNALFA.

Finalmente, ainda em defesa do cinema de alta qualidade, não custa lembrar que a Arte é a descoberta do necessário, como já afirmou o genial diretor francês Robert Bresson (1907-1999).


Nelson Bravo

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